amor pela profissão

Há um ano em sala de aula, professor com deficiência visual fala sobre inclusão

Carmen Staggemeier Xavier

Foto: Carmem Xavier (Diário)

Em maio do ano passado, o professor Daverlan Dalla Lana Machado, 26 anos, vencia mais uma barreira em sua vida. Após ser aprovado em um concurso, o pedagogo foi chamado para compor o quadro de docentes da rede municipal de Santa Maria. Hoje, ele se considera realizado por estar em sala de aula, atuando com alunos do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Sérgio Lopes, no Bairro Renascença. 

Portador de deficiência visual desde os 8 anos de idade, Daverlan viu na Pedagogia uma forma de contribuir para a formação de crianças e adolescentes e para a transformação de comunidades. 

- Sempre gostei de ajudar, de ensinar. E isso se tornou ainda mais forte quando perdi a visão e, então, contei com o apoio de professores. Eles foram fundamentais para que eu seguisse em frente. Me ajudaram a chegar onde cheguei. E, hoje, quero fazer o mesmo pelos meus alunos. Sei que posso fazer a diferença, assim como outros professores fizeram na minha vida - conta o docente.

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Apesar das políticas de inclusão, boa parte contempla apenas os estudantes. O acesso de professores com deficiência às instituições de ensino ainda enfrenta obstáculos. A adoção de cotas para a contratação de profissionais, segundo Daverlan, é um passo importante, mas é preciso, também, mudar a cultura das organizações.

- As cotas ajudam, com certeza. Eu entrei na rede municipal por cota. Mas ainda tem muita gente que não está atuando na função para a qual se formou. Isso ainda é uma barreira. Algumas contratações ocorrem por obrigação e, aí, a pessoa é colocada em um cargo qualquer. Parte disso é culpa nossa, dos deficientes, que nos contentamos e nos acomodamos com a função que nos designaram. Não vamos atrás do nosso sonho - ressalta o docente, que faz questão de estar em sala de aula.

E a companhia e o incentivo dos alunos, incluindo crianças com deficiência, estimulam ainda mais o professor, que atua no sistema de bidocência com outra professora, Lilian Saccol. Juntos, os dois preparam as aulas e promovem ações de inclusão.

- As crianças têm muita curiosidade de saber sobre como é ser uma pessoa com deficiência visual. E o Daverlan trata isso com muito diálogo e comunicação. Ele promove oficinas de braille para que os alunos entendam a linguagem - comenta Lilian.

Para os alunos, essa troca de informações e experiências faz muita diferença.

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- Ele é ótimo e nos ajuda muito. Ele nos mostra que podemos aprender juntos, de maneiras diferentes - relata a estudante Bianca Oliveira da Cruz, 10 anos.

Além de atender os alunos da Escola Sérgio Lopes, pela manhã, Daverlan também leciona na Escola Marista Santa Marta, no turno da tarde. 

NA SALA DE AULA 
O Diário buscou o número de professores com deficiência nas redes públicas de Santa Maria. Apenas a rede estadual não retornou as informações solicitadas. Confira o quadro:

  • Hoje, a rede municipal de ensino conta com nove professores com algum tipo de deficiência. Cinco deles têm duas matrículas, ou seja, leciona em duas escolas diferentes
  • Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), conforme dados da Coordenadoria de Ações Educacionais (CAEd) e da Comissão de Acompanhamento aos Servidores com Deficiência, são seis docentes nessa condição. Todos atuam no campus de Santa Maria. Três deles são surdos, dois têm deficiências físicas e um com característica não especificada pela instituição

DIVERSIDADE E INCLUSÃO NA UFSM
Assim como Daverlan, outros jovens estão buscando seu espaço no mercado de trabalho e na comunidade. E uma das portas para esse acesso é a Universidade Federal de Santa Maria, que está entre as universidades mais inclusivas e diversas do mundo, de acordo com o ranking University Impact 2019 (Impacto das Universidades), publicado pela revista britânica Times Higher Education (THE). Esta é a primeira edição do ranking, que destaca instituições que promovem ações de sustentabilidade, igualdade de gênero e políticas para redução da desigualdade. 

O levantamento analisou 462 universidades de 76 países, com dados de 2017. As instituições foram avaliadas por diferentes critérios, por isso não foram citadas em posições específicas, mas listadas em intervalos. Na classificação geral, a UFSM figura no 300º lugar em diante, enquanto que, em dois aspectos, aparece entre a 101ª e a 200ª posição.

Para o vice-reitor, Luciano Schuch, a classificação da universidade é motivo de orgulho e comemoração, pois coloca a UFSM em posição de destaque mundial. Para submeter suas candidaturas ao ranking, as universidades precisavam concorrer em no mínimo quatro aspectos. A UFSM pontuou nos critérios de assegurar a educação inclusiva equitativa e de qualidade, reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles; promover sociedades pacíficas; e fortalecer os meios de implementação para o desenvolvimento sustentável. 

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